Arde, depois passa.
A gente acha que não vai aguentar, mas aguenta.
Agora está insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas passa. Você acha que não, porque esperar uma dor passar é como olhar um transatlântico no mar estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olhar, conversa com seus amigos, toma uma dose e quando vê o barco já está longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga - é difícil de acreditar, eu sei - uma hora vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levanta daí, vai conversar com seus amigos, tomar a sua dose e quando você vê, passou.
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